A estrutura do transporte público brasileiro consiste na utilização do ônibus, metrôs e trens, e os três ao mesmo tempo como acontece no estado do Rio de Janeiro e São Paulo e algumas outras localidades (São Paulo agora conta com mais um modal, o monotrilho com trechos já inaugurados). Conforme preconiza a Constituição Federal, o serviço deve ser administrado pelo poder municipal, mas deve, também, receber investimentos dos estados e do Governo Federal.
Na prática não é isso que se observa. Na grande São Paulo, 80% dos ônibus urbano é administrado pelo município (SPTrans – São Paulo Transportes) e o restante vinculados à Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, ônibus intermunicipal é administrado pela (EMTU – Empresa Metropolitana de Transporte Urbano) assim como o metrô e monotrilho ( Metrô – Cia do Metropolitano de São Paulo), trens metropolitanos (CPTM – Cia Paulista de Trens Metropolitanos).
Os corredores segregados para ônibus, as obras do Metrô, passagem de linha férrea e agora com o monotrilho em construção, acabam trazendo divergências intermináveis e de pouca solução. Inegavelmente tudo isso acaba gerando um impacto visual, comercial e habitacional, principalmente àqueles que residem ou tem seu estabelecimento comercial no entorno, pois dependendo de como ficar o pós-obra, pode ou não valorizar o imóvel assim como pode melhorar ou não o movimento comercial num raio de cento e cinquenta metros, das paradas, terminais ou estações por onde passarão os diferentes modais.
O crescimento desordenado e rápido das metrópoles no período de 1930 a 1980 em que ficou nítida a mudança da economia do país que deixou de ser agrária e passou a ser industrializada, mudando, assim, a matriz econômica que deu início ao processo migratório campo-cidade, deixou a configuração espacial das nossas cidades de grande porte saturadas.
Com a intensa migração para os grandes centros, o encarecimento dos espaços (terrenos e moradias) nas partes centrais das cidades encareceram em detrimento da oferta e da procura e por dispor de transporte coletivo mais eficiente. Pelos motivos citados, as classes de menor poder aquisitivo, sem outra opção, instalaram-se nas periferias por causa do valor menor dos terrenos, mas com péssima infraestrutura como baixa acessibilidade e saneamento básico. Isto pressupõe que a classe com menor condição reside distante dos locais de trabalho ficando totalmente refém do transporte público coletivo ineficiente e de baixa qualidade, pois isso não foi priorizado ao longo das décadas em que ocorreu a migração em massa.
Tendo como ótica a aglomeração urbana cada vez mais densa, enxergamos que o espaço ocupado nas vias públicas, foi automaticamente adaptado para os automóveis sem pensar nos ônibus. Daí a dificuldade, hoje ano 2015, em fazer com que as cidades sejam mais acessíveis.
Quando membros dessa classe mais baixa consegue melhorar sua renda e tem acesso ao crédito, o primeiro impulso é adquirir um automóvel próprio justamente por ser, ele, desprivilegiado em sua mobilidade, mas sem ter noção de que será mais um a contribuir para o aumento do trânsito e suas consequências.
É preciso melhorar os serviços prestados, investir mais em infraestrutura, democratizar os espaços das cidades, melhorando a mobilidade e, principalmente, descentralizando os investimentos que hoje se encontram concentrados majoritariamente nos espaços, considerados mais nobres da maioria das grandes cidades. Não cometer os erros da atual gestão da prefeitura de São Paulo. A grande maioria das ciclovias estão nos espaços mais nobres da cidade que, basicamente, está privilegiando o lazer dos “coxinhas” e não o transporte da periferia.
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