Em várias colunas, dependendo do assunto, sempre citei o “maquiado” aumento do poder aquisitivo dos menos privilegiados. Numa dessas matérias citei o contrassenso do poder público em incentivar o uso do transporte coletivo e ao mesmo tempo incitar a aquisição de automóveis reduzindo taxas e facilitando o crédito. Fiz referência ao desenvolvimento das indústrias automotivas, o não desemprego e o aquecimento da economia do país em detrimento da maior procura pelos automóveis.
Não foi levado em consideração a situação econômica e a situação financeira daqueles ditos menos favorecidos. Naturalmente que os menos favorecidos sejam também menos favorecidos economicamente (não tem imóveis, automóveis, sítios, fazendas etc.), mas financeiramente vivem à margem com o salário mensal contado até os centavos. Com a facilidade de crédito, viram a possibilidade de realizarem um velho sonho que seria adquirir um automóvel, seja ele usado ou zero km. Então como resolver a questão? Num desses noticiários de TV, entrevistaram uma dona de casa (dos menos favorecidos) onde ela disse que, para que conseguissem comprar um carro, reuniram todos os membros com renda e colocando no papel, foram cortando os supérfluos e adequando quanto cada um poderia contribuir para a prestação de 60 ou 80 meses, não me lembro direito, sem entrada. Chegaram a um consenso de que cada um arcaria com uma conta da residência desde que estivesse dentro dos seus ganhos. A conta do automóvel acabou ficando com ela até porque era a que tinha menos gastos fora dos seus ganhos. Isso não significa que a família teve o seu poder aquisitivo aumentado. Simplesmente, por causa da facilidade do crédito “espichado” e IPI reduzido, o valor da prestação ficou menor possibilitando uma reorganização financeira dentro de casa para, finalmente, realizar o sonho que é possuir um automóvel para o lazer. Aí vem o grande disparate com relação ao anunciado com alarde, que a classe média aumentou. Maquiado também. Antes eram consideradas de classe média as famílias com renda de até $3.500,00 reais ou mais e agora são consideradas aquelas com renda de até $1.020,00 reais ou mais. Com essa manipulação de dados, é fácil dizer que o país evoluiu e que a classe média aumentou.
Pelo menos metade daqueles que estão nesse perfil, acabaram usando o carro para ir e vir ao trabalho além do lazer de final de semana. Consequência disso. Aumento brutal de automóveis particulares nas ruas dos grandes e médios centros, diminuição dos usuários do transporte coletivo e inadimplência aumentando a passos largos.
É possível baixar a tarifa do transporte coletivo? Sim. Como já disseram os especialistas em economia, seria necessário desonerar as empresas prestadoras de serviços em alguns impostos e rever a taxação dos inúmeros impostos Federal, Estadual e Municipal. Readequar seria o termo mais exato, pois hoje o que se percebe é que existem incoerências em vários tributos que o consumidor reclama sem ser ouvido. Já existem cidades no Brasil com tarifa zero e várias cidades no exterior também zero. O poder público, os especialistas na área e não deputados e senadores, deveriam visitar esses locais e verificar como estão sendo executadas tais “mágicas” como muitos se referem quando o assunto é passagem zero. Muitas outras considerações tenho a fazer, como por exemplo, que o pronunciamento do Prefeito da cidade de São Paulo e do Governador do Estado de São Paulo, foram equivocados. Não é necessário paralisar projetos em andamento. A ex-prefeita Luiza Erundina tem programas ótimos que foram engavetadas quando saiu do poder. Ninguém se interessou talvez agora alguém se interesse e tenha o bom senso de, ao menos, estudar e adequá-lo à realidade atual. Mas que existe a possibilidade de tarifa zero, isso existe. Basta ter vontade política.
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