A estrutura do transporte público brasileiro consiste na utilização do ônibus, metrôs e trens, e os três ao mesmo tempo como acontece no estado do Rio de Janeiro e São Paulo e algumas outras localidades (São Paulo agora conta com mais um modal, o monotrilho prestes a ser inaugurado). Conforme preconiza a Constituição Federal, o serviço deve ser administrado pelo poder municipal, mas deve, também, receber investimentos dos estados e do Governo Federal.
Embora em discussão, muitas vezes acalorada, a melhoria nos diferentes sistemas têm gerado controvérsias, principalmente por parte dos representantes dos bairros e pelos urbanistas. Os corredores segregados para ônibus, as obras do Metrô, passagem de linha férrea e agora com o monotrilho em construção, acabam trazendo divergências intermináveis e de pouca solução que agrade a todos. Inegavelmente tudo isso acaba gerando um impacto visual, comercial e habitacional, principalmente àqueles que residem ou tem seu estabelecimento comercial no entorno, pois dependendo de como ficar o pós-obra, pode ou não valorizar o imóvel assim como pode melhorar ou não o movimento comercial num raio de cento e cinquenta metros, mais ou menos, das paradas, terminais ou estações por onde passarão os diferentes modais.
O crescimento desordenado e rápido das metrópoles no período de 1930 a 1980 em que ficou nítida a mudança da economia do país que deixou de ser agrária e passou a ser industrializada, mudando, assim, a matriz econômica que deu início ao processo migratório campo-cidade, deixou a configuração espacial das nossas cidades de grande porte saturadas.
Com a intensa migração para os grandes centros, o encarecimento dos espaços (terrenos e moradias) nas partes centrais das cidades encareceram em detrimento da oferta e da procura e por dispor de transporte coletivo mais eficiente. Pelos motivos citados, as classes de menor poder aquisitivo, sem outra opção, instalaram-se nas periferias por causa do valor menor dos terrenos, mas com péssima infraestrutura como baixa acessibilidade e saneamento básico. Isto pressupõe que a classe com menor condição reside distante dos locais de trabalho ficando totalmente refém do transporte público coletivo ineficiente e de baixa qualidade, pois isso não foi priorizado ao longo das décadas em que ocorreu a migração em massa.
Tendo como ótica a aglomeração urbana cada vez mais densa, enxergamos que o espaço ocupado nas vias públicas, foi automaticamente adaptado para os automóveis sem pensar nos ônibus. Daí a dificuldade, hoje ano 2013, em fazer com que as cidades sejam mais acessíveis.
Quando membros dessa classe mais baixa consegue melhorar sua renda e tem acesso ao crédito, o primeiro impulso é adquirir um automóvel próprio justamente por ser, ele, desprivilegiado em sua mobilidade, mas sem ter noção de que será mais um a contribuir para o aumento do trânsito e suas consequências.
As manifestações a que me refiro no início desta matéria, ficou conhecida como “Revolta do Vinagre” em função da proibição, por parte da polícia, do uso do vinagre em manifestações para conter o efeito do gás lacrimogênio.
O problema do transporte urbano é somente a ponta do descontentamento, mas levando essa ponta em consideração, mais do que diminuir o valor da tarifa, melhorar os serviços prestados é preciso investir mais em infraestrutura, democratizar os espaços das cidades, melhorando a mobilidade e, principalmente, descentralizando os investimentos que hoje se encontram concentrados majoritariamente nos espaços, considerados mais nobres da maioria das grandes cidades.
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