Em algumas localidades, esse deslocamento é feito pelas empresas de ônibus urbano que dispõe algumas unidades de sua frota especificamente para esse fim, já que as condições das estradas, na sua maioria, são precárias e judiam bastante do veículo.
Essas empresas enfrentam muitas limitações para atender a população rural sendo a principal delas, a estrutura das estradas ou ramais, como é conhecida em alguns estados. Em muitos locais esse percurso é longo e chega a tingir 70 a 100 km mata adentro e com as obrigações de uma empresa urbana, trabalhando com 30% de gratuidade e 35% de estudantes (que são obrigações do transporte coletivo urbano).
Como a manutenção das estradas da zona rural é de competência da prefeitura, a cobrança em cima dos prefeitos é muito grande, principalmente dos pequenos agricultores e assentados, se for o caso.
Esse grupo depende única e exclusivamente desse meio de transporte inclusive para o escoamento da sua pequena produção. Sem ela precisariam, em mutirões, pagar frete ou depender da boa vontade de algum produtor de grande porte a dar “carona” para levar sua mercadoria até a feira da cidade mais próxima, e nesse caso, o frete seria repassado ao consumidor encarecendo o produto.
Outro ponto nevrálgico é a discussão a respeito da competência da regulamentação do transporte coletivo rural. A grande maioria daqueles que atuam nessas linhas, já o fazem há mais de 20 anos sem ter a concessão para transportar passageiros na zona rural.
Existem, ainda, algumas exigências do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para o transporte de passageiros fora do perímetro urbano. A Lei exige que todos estejam sentados e atados com cinto de segurança e o transporte de cargas deve ser feito de forma organizada e não é permitido carga no mesmo local dos passageiros. Alguns já foram autuados pela Polícia Rodoviária Federal por não estarem seguindo a Lei.
Na época da chuva em algumas regiões, pode ficar dias, semanas e até meses sem que os ônibus possam circular devido à condição das estradas e por não estarem dotados de tração 4 x 4. Somente os veículos equipados com esse dispositivo é que conseguem trafegar por essas vias e, dependendo da situação, nem esses conseguem ultrapassar os lamaçais formados pela chuva.
No estado do Acre, por exemplo, esse tipo de transporte é feita de forma precária, aos nossos olhos, mas aprofundando nos estudos da região, é a única forma de atender aos pequenos produtores e empregados da zona rural.
O transporte nos ramais do estado do Acre é feitos com a utilização de caminhonetas Toyota Bandeirante com carroceria de madeira, com bancos sem divisão nas laterais e uma no meio dela, devidamente cobertas com lonas e regularizadas pelo poder público local. É comum depararmos com esses veículos lotados de passageiros e igualmente lotados de bicicletas sobre a cobertura de lona. Isso significa que os usuários percorreram uma distância razoável até o local onde passa o transporte, usam a bike para rodar na cidade e para voltar até a sua residência.
Nosso país é muito extenso e às vezes pensamos se não há outra maneira de dar maior conforto a essas pessoas sofridas que residem em locais inimagináveis. Só vivenciando o dia a dia, e não por um curto período, vivenciando um ciclo todo (primavera, verão, outono e inverno) para podermos fazer juízo de valor antes de sair criticando. Cada região tem sua peculiaridade e isso só mudará se quiserem mudar ou tiver algum acontecimento que os obriguem a algumas mudanças.
www.naganuma.com.br mn@naganuma.com.br Twitter – @mtnaganuma